domingo, 23 de novembro de 2014

Sobre Galileu Galilei

Galileu Galilei (Pisa, 15 de fevereiro de 1564 — Florença, 8 de janeiro de 1642)


Galileu foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano, personalidade fundamental na revolução científica, tendo desenvolvido os primeiros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo.Foi ele quem descobriu a lei dos corpos, enunciou o princípio da inércia e o conceito de referencial inercial, ideias precursoras da mecânica newtoniana.

Galileu ficou muito conhecido por ter melhorado significativamente o desempenho do telescópio refrator e com ele descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vênus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as estrelas da Via Láctea. Estas descobertas contribuíram decisivamente para a defesa do heliocentrismo. Além disso, ele desenvolveu ainda vários instrumentos como: a balança hidrostática, um tipo de compasso geométrico que permitia medir ângulos e áreas, um tipo de termômetro e o que viria a ser o precursor do relógio de pêndulo.


Contudo a principal contribuição de Galileu foi para a metodologia científica como um todo, pois o método empírico que ele defendia foi um corte com o método aristotélico mais abstrato utilizado nessa época, devido a isto, Galileu é considerado como o "pai da ciência moderna".

Três séculos antes de nossa era, o filósofo chamado Cleantes de Assos, solicitou que Aristarco de Samos fosse chamado perante a justiça por blasfemar, afirmando que a Terra estava em movimento e ousado colocar o Sol no centro do universo. Dois mil anos depois, a razão humana permanecia estacionada no mesmo ponto, e Galileu foi acusado de blasfêmia e impiedade, sendo seus escritos condenados e ele obrigado a uma retratação e mesmo assim teve sua liberdade “apenas” parcialmente restrita como “sinal de indulgência”.

Nascido em Pisa, seu pai era um homem de grande mérito, porém sua fortuna era modesta, e a educação de seus quatro filhos exigiu grandes sacrifícios. Aos dezenove anos, Galileu já era versado nas letras gregas e latinas. Muito hábil tanto na teoria quanto na prática da música, também se exercitou nas artes do desenho. Mandado por seu pai para estudar medicina na Universidade de Pisa, onde ele desviou sua atenção para outras áreas como filosofia, onde começou a questionar o modelo Aristotélico.

Quando Galileu retornou a Florença em 1585, aos 22 anos, o acaso fez com que ele assistisse uma aula de geometria, onde finalmente foi apresentado a verdades precisas, estabelecidas por raciocínios claros e inteligíveis. Compreendendo então, que as matemáticas, e não a lógica, ensinam a arte de raciocinar, entregou-se a elas, e com uma extraordinária aplicação, fez rápidos progressos, tendo descoberto elegantes teoremas sobre os centros de gravidade, recebeu elogios lisonjeiros dos mais célebres juízes.


Em seus primeiros trabalhos, Galileu mostrou-se discípulo de Arquimedes. Suas dissertações e pesquisas o elevam ao nível dos mais ilustres matemáticos. Mostrando características de um espirito livre, suas obras incluem um plano de comédia e um soneto a uma dama cruel.

Mesmo assim, Galileu teve sua solicitação de um lugar de professor em Florença negada e teve que se contentar com a cátedra de matemáticas na Universidade de Pisa em 1588, onde o jovem professor provocou uma mudança radical de comportamento, abandonando as regras imutáveis do raciocínio, substituindo-os por aferições dos resultados de experimentos práticos, como a célebre queda dos corpos de pesos desiguais da torre de Pisa e seus primeiros trabalhos sobre o pêndulo. Em 1590, publicou o pequeno tratado "De motu", sobre o movimento dos corpos.


Apesar de suas novas ideias se espalharem pouco a pouco, Galileu angariou também um grande número de desafetos enciumados. E as inúmeras injustiças as quais ele foi submetido, tornaram insuportável sua permanência em Pisa. Ele solicita a cátedra de matemáticas em Pádua e a solicitação é prontamente atendida, em 1592.

Sua performance em Pádua excedeu as expectativas. Sua sala de aula precisou ser trocada duas vezes, e dois mil ouvintes fizeram a sua reputação e eloquência repercutir até em Veneza. Sua contratação de quatro anos foi renovada e seus vencimentos sucessivamente aumentados, chegando a mil florins. Essa renda era muitas vezes usada para ajudar sua numerosa família.

Com suas ideias sobre o sistema do mundo já consolidadas, sendo que numa carta a Kepler, datada de 6 de agosto de 1597, ele mostra suas opiniões bastante determinadas em favor de Copérnico.

Foi nesse período que Galileu inventou o termômetro e o “compasso de proporção”, instrumento hoje esquecido, comparável à régua de cálculo.


Em meados de 1609, espalhou-se por Veneza a notícia de que certos instrumentos fabricados na Holanda, permitiam perceber distintamente objetos distantes. A arte de trabalhar o vidro havia sido melhorada ao nível mais alto em Veneza do que em qualquer outra região. Galileu reproduziu e melhorou o tal artefato, criando a luneta que leva o seu nome.

Ao saber que o instrumento era composto de duas lentes em um tubo, Galileu, através de experimentos, logo construiu um capaz de aumentar três vezes o tamanho aparente de um objeto, depois outro de dez vezes e, por fim, um capaz de aumentar 30 vezes. Uma dessas lunetas instalada no alto do campanário de São Marcos, causou uma alegria pública e universal. Por conta dessa invenção que permitia enxergar navios inimigos ao longe, Galileu teve seus vencimentos dobrados pelo Senado que garantiu o usufruto deles pelo resto de sua vida.

A luneta não era uma invenção tão nova quanto se acreditava em Veneza. Ela já havia sido difundida na Holanda e na França, embora com menos sofisticação e sucesso. Coube a Galileu no entanto, o mérito de aperfeiçoá-la e ser o primeiro a construir instrumentos de alta potência e direcioná-los para o céu a fim de explorá-lo. O termo “telescópio” foi inventado na Itália mais tarde, em 1611.


Com sua nova e aperfeiçoada luneta, Galileu explorou primeiramente a Lua, descobrindo que sua superfície se assemelhava à da Terra, cheia de montanhas e vales entre as crateras, contrariando a doutrina Aristotélica da perfeição esférica. Depois disso, voltou seus estudos para as estrelas em geral e à Via Láctea em particular. Porém, sua maior descoberta foi a descoberta dos satélites de Júpiter.
Todas essas descobertas foram publicadas em 1610 na obra “Sidereus Nuntius” (Mensageiro Celeste), que ele começou a escrever dez meses depois da criação da luneta.


Apesar de todas as descobertas e constatações, Galileu continuava angariando opositores que insistiam em defender os pensamentos de Aristóteles. Com a difusão do uso da luneta, e temendo perder a autoria de alguma descoberta, sem no entanto pretender revela-las aos rivais, Galileu começou a publicá-las em forma de frases curtas e enigmáticas, com letras transpostas. Foi assim que de forma velada, publicou a descoberta de Saturno e sua forma “estranha” e das fases de Vênus.

Depois desse período, Galileu partiu para Florença com o cargo de matemático e filósofo do grão-duque Cosme de Médicis, com um salário de cerca de mil escudos anuais.

Galileu já tinha uma relação antiga com a corte de Florença, a qual visitava constantemente durante suas férias. Ele ficou muito feliz e à vontade em Florença, no entanto, o governo de Florença estava longe de ter diante da corte de Roma, a mesma independência do governo de Veneza. Um apoio muito importante foi dado a Galileu por Kepler, que confirmou a existência efetiva dos satélites de Júpiter, publicando em Frankfurt em 1611 a obra: "Narratio de observatis a se quattuor Jovis satellibus erronibus", comprovando as anotações de Galileu.


Convidado à Roma em 1911, Galileu foi recebido pelo Papa e em 29 de março, apresentou as suas descobertas ao Colégio Romano dos jesuítas, onde se encontrava o futuro Papa Urbano VIII, de quem ficou amigo, e o cardeal Roberto Bellarmino, que reconhece as suas descobertas, e apesar de suas ideias, não foi perseguido, e deixou lá vários amigos.

Esse período de estada em Roma, não foi perdido para a ciência: foi lá que ele mostrou pela primeira vez e distintamente, as manchas do Sol. Galileu já as havia percebido no ano anterior, mas cauteloso, não publicou nada a respeito, permitindo que o holandês Fabrícius e o jesuíta alemão Scheiner se antecipassem na publicação da descoberta em 1911. É somente em 1913 que Galileu sem ter lido Fabrícius e para retificar os erros de Scheiner, escreve à Marcos Velser três cartas sucessivas, nas quais faz conhecer suas próprias observações, provando que as manchas se formam e se dissolvem continuamente como as nuvens acima de nossas cabeças.


De volta a Florença, e sem abandonar a astronomia, Galileu se ocupou do equilíbrio dos corpos flutuantes. Abandonando o método experimental publica uma obra conceitual na qual ele demonstra e prevê uma lei que afortunadamente se mostrou verdadeira: o célebre princípio das velocidades virtuais, que iria inspirar Lagrange 200 anos depois.

Entre outros, destaca-se nesse período seus estudos dos movimentos aparentes da Lua, que embora nos apresente sempre a mesma face, é possível, observando-a de perto, constatar variações e oscilações importantes. É o fenômeno da “libração”, estudado mais tarde com muito zelo e sucesso por Helvétius e Cassini.

Em março de 1614, completou os estudos sobre o método para determinar o peso do ar. Entre 1613 e 1615, escreveu as famosas "cartas copérnicas" dirigidas a Benedetto Castelli, Pietro Dini e Cristina di Lorena, onde descrevia suas ideias inovadoras, gerando escândalo nos meios conservadores, e que circularam apesar de nunca terem sido publicadas oficialmente, ficando assim uma divisão de apoiantes e de opositores nas duas principais universidades da Itália. As passagens mais polêmicas são as que ele transcreve trechos bíblicos que deviam ser interpretados à luz do sistema heliocêntrico, para o qual Galileu não tinha ainda provas científicas conclusivas. E este começou a ser o princípio de um problema futuro.

Partidário da doutrina de Copérnico, Galileu a divulgava incessantemente por meio conversações e correspondências, o que gerou reações e perseguições violentas por parte dos teólogos, fazendo com que ele viajasse à Roma uma segunda vez.

No entanto, a essa altura, Paulo V, convencido pelos mais ilustres teólogos, e em 1616, a Inquisição (Tribunal do Santo Ofício) pronunciou-se sobre a Teoria Heliocêntrica: decidindo que a teoria que coloca o Sol no centro do Mundo era um erro e uma impiedade. Sustentar que a Terra não está no centro do Mundo e não está imóvel era também uma opinião falsa. Uma decisão tão formal, impunha silêncio a seus contraditores. Galileu foi explicitamente ordenado por uma comissão da inquisição a abandonar suas ideias. No entanto, considerando a verdade como a causa comum de todas as pessoas honestas, Galileu tentou fazer revogar essa sentença absurda.


De forma contínua e inabalável, Galileu continuava defendendo suas ideias fervorosamente, angariando com isso, poderosos inimigos, forçando seu retorno à Florença.

Pouco tempo depois de seu retorno, a aparição simultânea de três cometas não deixou de preocupa-lo. Bastante adoentado, precisou contar com seus amigos para mantê-lo informado e recolher suas ideias sobre o fenômeno. O resumo dessas observações, publicado por Mario Guiducci, gerou uma polêmica que se tornou célebre, com troca de panfletos com os monges jesuítas do Colégio Romano, redundando numa vigorosa réplica intitulada por Galileu como: Il Saggiatore em 1623, obra bastante longa, porém muito bem humorada, que veio a se tornar um clássico.


Essa obra, desencadeou uma nova viagem de Galileu à Roma, onde foi recebido pelo recém empossado papa Urbano VIII, por quem foi felicitado, e apesar de defender as ideias antagônicas, declarou que Galileu era tão sábio quanto devoto, conservando por ele sua afeição e estima.

Foi neste contexto que Galileu escreveu o “Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano”, abreviado para “Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo” (Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo) completado em 1630 e publicado em 1632, onde voltou a defender o sistema heliocêntrico e a utilizar como prova a sua teoria incorreta das marés. Esta obra, era um diálogo entre três personagens: Salviati (defensor do heliocentrismo), Simplício (defensor do geocentrismo e um pouco tonto) e Sagredo (um personagem neutro, mas que ao final concorda com Salviati). Esta obra foi decisiva no processo da Inquisição contra Galileu. A isto se deve a história complexa que levou à sua publicação, pois foi o próprio Papa Urbano VIII, quem sugeriu à Galileu escrever um livro onde os dois princípios fossem discutidos em igualdade de condições.


No entanto, a insistência de Galileu em defender uma doutrina já fulminada pelas excomunhões de Roma, era uma desordem que os inimigos de Galileu, tanto teólogos como partidários de Aristóteles (peripatéticos), fizeram repercutir pela Itália entre murmúrios e acusações, permeados de “explicações lógicas” que tentavam desacreditar o trabalho de Galileu.

E apesar de todos esses esforços contrários, Galileu continuava destemidamente defendendo suas ideias, nunca se preocupando em acalmar as oposições, ele publica os seus Diálogos. E suas maliciosas zombarias tendo como centro o personagem Simplício, acabaram fazendo com que o papa Urbano VIII acreditasse ter sido desprezado, fazendo-o soltar as rédeas do furor dos inimigos de Galileu, empurrando-o para o abismo. Galileu foi declarado suspeito de heresia, e convocado a defender suas ideias em Roma em setembro de 1632.

Já aos setenta anos de idade, e com a saúde debilitada, não foi poupado, sendo obrigado a viajar para Roma em pleno inverno, chegando a Roma em 19 de fevereiro de 1633, ficando na casa do embaixador da Toscana até o mês de abril, quando recebeu ordens para comparecer ao palácio da inquisição onde permaneceu dezenove dias, retornando à embaixada com a proibição de revelar qualquer coisa sobre os interrogatórios.


Em 20 de junho de 1633, Galileu foi chamado ao santo ofício. Apresentando-se na manhã seguinte foi detido e no dia 22 conduzido à igreja de Minerva para que a sentença fosse lida e para que ele abjurasse sua opinião.

Sobre esse período, existe uma discordância entre os historiadores: alguns afirmam que Galileu se recusou a abjurar, batendo o pé no chão e exclamando: “ela se move!”, outros dizem que ele foi vítima das mais cruéis torturas. Sem que nada disso tenha sido comprovado, o mais provável é que o seu maior martírio tenha sido mesmo o fato de ser obrigado a renegar suas convicções.

Em vez de uma prisão comum, Galileu foi condenado a prisão domiciliar no palácio de Piccolomini, arcebispo de Siena. De lá foi transferido para a casa de campo de Arcetri, perto de Florença em 1634, com a condição de receber poucas pessoas e não manter assembleias acadêmicas. A essa altura seu interesse recaiu sobre a observação dos satélites de Júpiter para determinar as longitudes no mar.


Apesar de perseguir o problema das longitudes, Galileu retomou os trabalhos sobre o peso, que cinquenta anos antes, em Pisa, despertou admiração de seus discípulos. Ele redigiu cinco “Diálogos sobre duas novas ciências”, publicados pela primeira vez em Leida, em 1638, três anos antes de sua morte. Os dois primeiros “diálogos” tratam da resistência dos materiais. O terceiro e quarto “diálogos”, tratam sobre o movimento dos corpos pesados, lançando os fundamentos da ciência do movimento.


Ainda em 1638, Galileu ficou totalmente cego, mas continuou recebendo visitas até seus últimos dias, sendo acometido de febre e palpitação no coração, faleceu em 8 de janeiro de 1642 aos 77 anos de idade.


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